Entre a alta e a volta para casa: como funcionam os hospitais de transição | cnn brasil

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Ao receber alta hospitalar, nem sempre o paciente está pronto para voltar plenamente à rotina em casa. Se ainda precisa de reabilitação, cuidados clínicos ou apoio emocional, os HOSPITAIS DE


TRANSIÇÃO surgem como uma solução estratégica e cada vez mais necessária para a recuperação total. A CNN conversou com especialistas para entender como funcionam unidades de saúde do tipo e


a importância delas para a retomada da qualidade de vida, especialmente de idosos. COMO FUNCIONAM OS HOSPITAIS DE TRANSIÇÃO Os hospitais de transição representam uma mudança importante na


forma de cuidar da saúde no Brasil, preencendo uma lacuna entre a alta hospitalar e o cuidado domiciliar para pacientes em fase de recuperação. Especificamente no caso de idoso, o geriatra


Felipe Vecchi, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de São Paulo, destaca que esse tipo de modalidade hospitalar é essencial para restaurar dois pilares da vida


saudável do indivíduo: A AUTONOMIA E A INDEPENDÊNCIA. “O objetivo do ambiente de transição é atender o paciente idoso, que estava em um hospital [tradicional] e recuperado do ponto de vista


clínico, mas que ainda precisa melhorar esses dois pilares para conseguir voltar a conviver em sociedade ou seguir com o seu dia a dia da maneira mais segura possível”, observa Vecchi. Isso


inclui, por exemplo, casos de pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC), passaram por uma cirurgia ortopédica ou ficaram acamados por longos períodos em UTIs. COMO É A ROTINA


DE UM HOSPITAL DE TRANSIÇÃO Nos hospitais de transição, a lógica de cuidado é centrada no paciente, com planos terapêuticos personalizados desenvolvidos por profissionais de diversas áreas.


A equipe pode incluir clínicos, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, geriatras, psicólogos, assistentes sociais, entre outros. A permanência média do


paciente em hospitais de transição varia conforme a complexidade do caso, podendo ser de 15 a 90 dias, de acordo com Carlos Alberto Chiesa, clínico geral e CEO da Rede Placi, com atuação no


Brasil e focada na modalidade. BRASIL X MUNDO Ainda incipiente no país, o modelo é consolidado em países da Europa e nos Estados Unidos. "Em termos de funcionamento [os hospitais de


transição estrangeiros], não diferem muito. Porém, em organização, perfil de pacientes e acesso, sim. Nos EUA, os pacientes são transferidos mais precocemente para as unidades específicas de


reabilitação, de cuidados especializados de enfermagem ou de cuidados complexos", afirma Chiesa. "No Reino Unido, procura-se atingir o máximo de autonomia para o retorno seguro


para casa, e existe uma preocupação grande em liberar os leitos dos hospitais de cuidados agudos para pacientes mais graves”, acrescenta o clínico geral. Na avaliação do gestor, o principal


desafio atual de seguir com os hospitais de transição no Brasil está ligado à cultura do país. “Talvez a maior adaptação tenha sido incorporar um novo modelo assistencial intermediário entre


o hospital de cuidados agudos e o de cuidado em casa. Outro grande ajuste é entender que o hospital de transição não tem a vocação de diagnosticar e tratar (que é fundamental, diga-se de


passagem), mas, sim, de cuidar", diz Chiesa. "Isso requer um modelo mental diferente dos profissionais de saúde que trabalham de forma integrada entre as várias disciplinas, além


do envolvimento e participação da família e do cuidador em todas as etapas deste processo”, completa o médico. AMBIENTE ACOLHEDOR, ESTÍMULO À AUTOESTIMA E PREVENÇÃO A INTERCORRÊNCIAS Um


diferencial importante desses hospitais é, justamente, o de ser um ambiente mais leve e propositivo, visando a recuperação do paciente. Ao contrário do clima hospitalar comum, as unidades de


transição oferecem espaços mais humanizados, com atividades coletivas, terapias ocupacionais e treinamentos para estimular a independência. “Isso acontece com pequenas coisas, como parar de


depender de alguém para se alimentar e passar a comer sozinho, levantar de uma cadeira sozinha e andar sozinho é super importante", descreve o geriatra Felipe Vecchi. "Esse


objetivo principal: não ter nenhum grau de dependência", acrescenta. "É o que mais motiva e é o que realmente mais acaba sendo o importante na autoestima do idoso para que ele se


envolva cada vez mais no tratamento.” Ainda de acordo com Vecchi, quanto mais independente, mais seguro o idoso está. “Sabemos que, quanto mais próximo possível ele estiver do que era antes,


menores são as chances dele ter um novo evento adverso, uma nova intercorrência clínica”, pontua o médico. DESAFIOS E PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO Apesar dos avanços, a expansão desse tipo


de unidade ainda esbarra em alguns desafios: pouco conhecimento da população e necessidade de mais investimentos públicos e privados. “Comparado com países da América do Norte e Europa, o


Brasil tem uma oferta ainda incipiente de leitos de transição — em níveis 20 vezes menor do que o oferecido nestes países”, projeta Chiesa. De acordo com o executivo, o Sistema Único de


Saúde (SUS) prevê hospitais de retaguarda, de cuidados prolongados e existem alguns modelos públicos de hospitais de excelência voltados para reabilitação. Em alguns municípios, há a


contratação de leitos de transição como política de otimização de gestão de leitos hospitalares.