
Peça se inspira na obra do nobel kenzaburo oe
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Uma das estreias nacionais que ocorrem durante o Festival de Curitiba, o solo _Oe_ promete falar – com simplicidade – palavras potentes enraizadas na literatura de Kenzaburo Oe. O projeto,
idealizado pelo ator Eduardo Okamoto, partiu do resgate de sua origem nipônica – na infância, o pai o afastou dela, por temor de que o filho sofresse preconceito. Tudo começou em 2013, com
aulas de butô, dança cerimonial japonesa. “Alguma coisa em mim ainda vibrava. Decidi então estudar a literatura japonesa e descobri a obra grandiosa, de envergadura clássica, de Kenzaburo
Oe”, diz. Apaixonado pela obra do Nobel de Literatura 1994, que ele compara a Dostoiévski, Okamoto mergulhou no formato único do autor, que mescla autobiografia, ensaio, mitologia e ficção.
Concentrou-se em especial no livro _Jovens de um Novo Tempo, Despertai!_, que Oe escreveu como um legado de vida ao filho que sofre de autismo. CORPO JAPONÊS A pesquisa para levar o texto ao
palco incluiu uma viagem ao Japão, em que o ator percebeu em si um “corpo japonês”. “Detalhes como a ida frequente ao chão, tirar sapatos para entrar na sala, ajoelhar-se, me faziam sentir
saudade daquilo. Em algum lugar de mim, eu me sentia muito japonês”, explica. Tomando essa noção do corpo e o elemento literário – o livro de Oe –, o dramaturgo Cássio Pires escreveu um
texto de 14 páginas que Okamoto interpreta em 70 minutos. De acordo com o ator, trata-se de um poema para a cena com o espírito da obra, mas numa ficção nova, com poucas falas retiradas do
livro. A atuação, dirigida pelo premiado Marcio Aurélio, usa a narração mais do que a interpretação, em que o ator passeia da mente do pai para a do filho. O episódio central é uma crise de
autismo em que o filho entra por acreditar que o pai tinha morrido, quando na verdade ele havia saído em viagem. No retorno, o pai encara a realidade de que não cuidará para sempre do menino
e decide escrever o livro em que tentará explicar todas as coisas a ele. Ao partir de um fato real tão pessoal, Oe, conhecido por seu ativismo contra o uso da energia nuclear, sugere na
obra que a atitude de uma vida particular interfere no mundo todo.