
Cinco filmes disponíveis no streaming que mostram o lado b do jornalismo
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Filmes em que jornalistas ajudam a elucidar casos e terminam como heróis são mais recorrentes do que os que mostram os reais dilemas da profissão. Por isso mesmo, é bem mais interessante
listar as obras que retratam os bastidores, as entranhas dessa complicada labuta. E o cinema já produziu ótimas histórias que revelam esse “lado b” – expressão que remete ao lado do disco de
vinil para onde iam as faixas mais obscuras do artista, com menos chance de fazer sucesso. A lista a seguir tem ficção, história real, romance, comédia sofisticada e comédia escrachada.
Todas as escolhas contribuem para dar um panorama das agruras enfrentadas por quem se dedica às notícias, seja em mídia impressa ou televisiva. São filmes que o espectador termina de
assistir e confirma aquela famosa máxima: “é um trabalho sujo, mas alguém tem de fazê-lo”. REDE DE INTRIGAS (1976, SIDNEY LUMET) Prestes a completar 50 anos, o filme escrito por Paddy
Chayefsky sempre chamou atenção por parecer estar à frente de seu tempo. A impressão se mantém em 2025. Questões debatidas no roteiro como o emburrecimento da sociedade e a devoção à cultura
de massa seguem nos perseguindo até hoje, o que muda é que em 1976 era a TV quem definia tudo e hoje é a internet. Na história, um âncora de telejornal (Howard Beale) tem um surto ao vivo
após descobrir que será tirado do ar pela emissora e anuncia que vai se matar. A fala intriga a audiência, assim como suas intervenções subsequentes, o que gera bons números e faz a TV rever
os planos de dispensar o jornalista. Ele ganha um programa próprio em que atua como um profeta e vocaliza angústias da população. Numa cena emblemática, Howard pede que todos os
espectadores se dirijam à janela da sala e gritem: “eu estou furioso e não consigo aguentar mais!”. Uma adaptação chegou a ser usada pelo agitador Carlos Imperial em sua campanha para
prefeito do Rio de Janeiro em 1985 pelo Partido Tancredista Nacional – ele pedia no horário eleitoral para que os cariocas berrassem a frase de dentro de suas casas. A aposta sensacionalista
da empresa em manter o descontrolado Howard no ar, com anuência da executiva louca por ibope vivida por Faye Dunaway, acaba muito mal. _O elenco central do filme dirigido por Sidney Lumet
em 1976 (Foto: Divulgação Prime Video)_ ONDE ASSISTIR: Prime Video e locação e compra em AppleTV e Amazon. AUSÊNCIA DE MALÍCIA (1981, SYDNEY POLLACK) Cinco anos depois de _Rede de Intrigas_,
outro filme revelou obscuridades do jornalismo, só que num registro menos alucinado. Em _Ausência de Malícia_, Sally Field interpreta uma novata jornalista que se interessa pelo assassinato
de um líder de sindicato em Miami. Seguindo pistas furadas, ela chega até Michael Gallagher, papel do magnético Paul Newman. Inconformado em ver seu nome nos jornais como suspeito,
Gallagher começa a fazer esforços para descobrir quem está tentando incriminá-lo. A repórter acaba se envolvendo com o galã, levando o _thriller _para o caminho do romance proibido, em que a
ética jornalística vai para as cucuias. ONDE ASSISTIR: Looke, NetMovies e locação e compra em AppleTV e Amazon. CELEBRIDADES (1998, WOODY ALLEN) Woody Allen filmou em preto e branco essa
história encabeçada pelo ator inglês Kenneth Branagh. Ele faz Lee Simon, que quer ser romancista e vender um roteiro para Hollywood, mas ganha a vida mesmo escrevendo matérias de turismo. A
crise da meia idade o leva para o jornalismo de celebridades e, por conta das atrizes, modelos e figurantes com as quais passa a se relacionar, também o leva a pedir o divórcio da esposa, a
introvertida professora Robin, que fica arrasada. Mas, enquanto ele pula de galho em galho e sempre se dá mal, iludido com sua nova perspectiva de vida, a ex tira a sorte grande ao conhecer
um produtor de TV que se apaixona e faz tudo por ela, inclusive a transforma numa repórter do mundo dos famosos (Donald Trump é entrevistado por ela num jantar). Os humilhados terminam
exaltados, como em muitas histórias de Allen. ONDE ASSISTIR: Oldflix e PlutoTV. CONSPIRAÇÃO E PODER (2015, JAMES VANDERBILT) De todos os filmes desta seleção, _Conspiração e Poder_ é o mais
convencional, mas nem por isso menos interessante. Ele relata em detalhes como foi a controvérsia que levou ao afastamento do jornalista Dan Rather (aqui vivido por Robert Redford) do
programa _60 Minutes_. O roteiro é baseado nas memórias de Mary Mapes (Cate Blanchett), principal produtora de Rather, que investiu numa reportagem questionando se George W. Bush teria
recebido alguma vantagem durante seu período no serviço militar. O escândalo explodiu pouco antes do período eleitoral americano, quando Bush conseguiu a reeleição para presidente. Apesar
não ter feito uma apuração negligente (segundo a perspectiva do filme), Mary cometeu deslizes ao lidar com documentos que poderiam ter sido forjados e comprometeu a reputação de Rather e da
emissora CBS, além de levantar suspeitas de que sua atuação teria viés ideológico – todo jornalista da área política sabe o que é isso. [embedded content] ONDE ASSISTIR: Prime Video, Mubi e
locação e compra em AppleTV. TUDO POR UM FURO (2013, ADAM MCKAY) Para desopilar o fígado, vale investir duas horas nessa comédia sem limites estrelada por Will Ferrell e grande elenco.
Trata-se do retorno do apresentador de telejornal que ficou conhecido em 2004 no filme _O Âncora: a Lenda de Ron Burgundy_. Na virada dos anos 1970 para os 1980, o personagem de Ferrell
deixa sua San Diego querida e leva sua esposa (a também apresentadora Veronica Corningstone) para brilhar em Nova York, num noticiário transmitido para todo o país. As coisas mudam de rumo
quando ele é demitido pelo péssimo desempenho e precisa reunir seu velho time de comentaristas para uma nova empreitada: capitanear um jornal numa emissora somente de notícias (novidade na
época). A trupe de abilolados acaba lançando tendências que revolucionam o jornalismo americano, algo que só é freado por um acidente em que Burgundy perde a visão. Na luta para reconquistar
seu posto de destaque e se reaproximar da esposa e do filho, ele precisa duelar com rivais da própria emissora e das concorrentes, numa batalha épica com participações de Jim Carey, Will
Smith, Tina Fey, Liam Neeson e Kanye West. ONDE ASSISTIR: Netflix. VEJA TAMBÉM: * Em “Crime Verdadeiro”, Clint Eastwood ilustra o papel redentor da verdade * “Todos os Homens do Presidente”
mantém seu frescor quase meio século depois