Sífilis adquirida cresce 31,8% e acentua epidemia silenciosa no Brasil

Sífilis adquirida cresce 31,8% e acentua epidemia silenciosa no Brasil


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Desde 2010, por exemplo, quando os serviços de saúde de todo o país passaram a ser obrigados a notificar os casos de sífilis adquirida para o ministério, foram registrados quase 480 mil


novos casos. Entre os anos de 2016 e 2017 houve um aumento de 32% nos casos de sífilis entre adultos – e mais de 28% em mulheres grávidas.


Aumento na taxa de detecção da sífilis adquirida, que passou de 44,1 casos a cada 100 mil habitantes em 2016 para 58,1 casos a cada 100 mil habitantes em 2017. “Houve aumento na detecção da


sífilis em gestantes, passando de 38 mil casos em 2016 para 49 mil casos em 2017. O que representa 134 gestantes detectadas com sífilis por dia no Brasil”, explica a médica sanitarista Adele


Benzaken, especialista em doenças sexualmente transmissíveis.


Segundo ela, houve aumento, ainda, no número de mortes por sífilis congênita, que passou de 195 óbitos em 2016 para 206 casos óbitos em 2017.


No Brasil, a população mais afetada pela sífilis são as mulheres, principalmente as negras e jovens na faixa etária de 20 a 29 anos. Esse grupo representa 14,4% de todos os casos de sífilis


adquirida e em gestantes notificados. Na comparação por sexo, as mulheres de 20 a 29 anos alcançam 26,2% do total de casos notificados, enquanto os homens nessa mesma faixa etária


representam apenas 13,6%.


A maior parte dos casos ocorre na Região Sudeste (56%), a mais urbanizada e desenvolvida do país. Em 2017, foram 61.745. O valor é 13 vezes maior do que a Organização Mundial da Saúde (OMS)


considera aceitável.


Uma das prováveis causas para essa doença curável ter virado uma epidemia pode estar ligada a queda no uso da camisinha. Em 2004, por exemplo, 58,4% dos jovens de 15 a 24 anos usavam


preservativo em relações casuais. Em 2013 (ano da pesquisa mais recente do Ministério da Saúde sobre o assunto), o número baixou para 56,6%. Em relações estáveis, a proporção dos que usam é


parecida: em 2004 eram 38,8%; em 2013, 34,2%.


Outra questão a se considerar é que a acessibilidade da penicilina pode ter mudado o seu status de aliada para inimiga. O preço baixo, que deveria facilitar o acesso da população à droga,


desestimula a indústria farmacêutica a fabricá-la. Nesse cenário, em 2015, o medicamente faltou nas prateleiras do Brasil.


Apesar de a compra ser de responsabilidade de estados e municípios, o Ministério da Saúde passou, em 2016, a centralizar as aquisições dos produtos para garantir o acesso da população aos


medicamentos, uma vez que os entes federativos isolados estavam com dificuldades em adquirir o remédio. Entre 2016 e setembro de 2017, foram entregues 2.175.000 frascos-ampola de penicilina


benzatina.


Outra mudança realizada para ampliar o atendimento se referiu à parte operacional. Isso porque, até julho de 2015 a aplicação do medicamento pela equipe de enfermagem dos locais era


restrita. Porém, em 2017 o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicou uma nota técnica revisando a recomendação e afirmando que os profissionais da área estavam aptos a administrar a


medicação mediante prescrição médica ou de enfermagem. “A enfermagem tem um papel fundamental no controle da sífilis. Os riscos do não-tratamento superam, e muito, o de ocorrências


adversas”, afirmou o conselheiro federal Vencelau Pantoja.


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