
A ser... Ou... A sermos...? - migalhas
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O leitor GEOVANE LOPES DE OLIVEIRA envia a seguinte mensagem ao GRAMATIGALHAS: > "Prezados e prezadas, quando um verbo é precedido da preposição > 'a' ele dever ser
flexionado? Sempre ou só às vezes? Neste último > caso, quando? Exemplo: (1) 'Nosso pai sempre nos incentivou a ser > forte' ou 'Nosso pai sempre nos incentivou a sermos
fortes'; (2) 'A > miséria compele-nos a não ter prurido' ou 'A miséria compele-nos > a não termos prurido'; (3) '...a imprescindível descoberta dos >
comportamentos a serem adotados...' (trecho retirado da obra 'Teoria > dos princípios', de Humberto Ávila, 5ª ed., Malheiros, p. 24) ou > '... a imprescindível
descoberta dos comportamentos a ser > adotados...' Cordialmente," Envie sua dúvida 1) Indaga um leitor qual ou quais as formas corretas nos seguintes exemplos: a) "Nosso
pai sempre nos incentivou a ser fortes"; b) "Nosso pai sempre nos incentivou a sermos fortes"; c) "A miséria compele-nos a não ter prurido"; d) "A miséria
compele-nos a não termos prurido"; e) "... comportamentos a ser adotados..."; f) "... comportamentos a serem adotados...". 2) Quanto ao uso do infinitivo flexionado
ou não, de um modo geral, leciona Said Ali que a escolha depende de cogitarmos somente da ação ou do intuito ou da necessidade de pormos em evidência o agente da ação: no primeiro caso,
preferimos o infinitivo não flexionado; no segundo, o flexionado.1 3) Também para Hêndricas Nadólskis e Outra, "muitas vezes, a opção entre a forma flexionada ou não flexionada é
estilística e não gramatical. Quando mais importa a ação, prefere-se a forma não flexionada; quando se realça o agente da ação, usa-se a forma flexionada".2 4) Celso Cunha, que cita o
primeiro autor, em complementação, diz tratar-se, em verdade, de um emprego seletivo, mais do terreno da Estilística do que, propriamente, da Gramática.3 5) Feitas essas ponderações e
resumindo que o uso do infinitivo flexionado ou não é questão mais de Estilística do que de Gramática e depende muito da eufonia, invoca-se, com os olhos voltados para o caso da consulta, a
lição de Artur de Almeida Torres, para quem "o infinitivo poderá variar ou não, a critério da eufonia, se vier precedido das preposições _sem, de, a, para_ ou _em_". Exs.: a)
"Vamos com ele, sem nos apartar um ponto" (Padre Antônio Vieira); b) "... os levavam à pia batismal sem crerem no batismo" (Alexandre Herculano); c) "Careciam de
obstar a que se escrevesse o que faltava do livro" (Alexandre Herculano); d) "Os manuscritos de Silvestre careciam de serem adulterados" (Camilo Castelo Branco); e)
"Obrigá-los a voltar o rosto contra os árabes" (Alexandre Herculano); f) "... obrigava a trabalharem gratuitamente" (Alexandre Herculano); g) "... fanatizados que
aparecem sempre para justificar o bom quilate da novidade..." (Camilo Castelo Branco); h) "... tantos que nasceram para viverem uma vida toda material" (Alexandre Herculano).
6) Feitas essas observações teóricas, volta-se aos exemplos da consulta: a) "Nosso pai sempre nos incentivou a ser fortes" (correto); b) "Nosso pai sempre nos incentivou a
sermos fortes" (correto); c) "A miséria compele-nos a não ter prurido" (correto); d) "A miséria compele-nos a não termos prurido" (correto); e) "...
comportamentos a ser adotados..." (correto); f) "... comportamentos a serem adotados..." (correto). __________________ 1 Apud CUNHA, Celso. Gramática Moderna. 2. ed. Belo
Horizonte: Editora Bernardo Álvares S.A., 1970, p. 230. 2 Cf. NADÓLSKIS, Hêndricas; TOLEDO, Marleine Paula Marcondes Ferreira de. Comunicação Jurídica. 2. ed. São Paulo: Edição dos Autores,
1998, p. 125. 3 Cf. CUNHA, Celso. Gramática Moderna. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Bernardo Álvares S.A., 1970, p. 126.