Leonardo sakamoto: salgado provou que imagens doem mais que socos e mudam mais que bombas

Leonardo sakamoto: salgado provou que imagens doem mais que socos e mudam mais que bombas

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No Brasil, seu trabalho foi um soco no estômago da hipocrisia social. A série que produziu sobre Serra Pelada, no Pará, em 1986, revelou o inferno dourado do garimpo, onde milhares de


miseráveis viravam formigas em busca de migalhas do sonho capitalista. Ao listar as 25 imagens que definem a modernidade, o The New York Times escolheu uma delas. Salgado não era só um


fotógrafo. Era um militante pela humanidade com uma câmera na mão. Tanto que exilou-se na França, durante a ditadura, para ter a liberdade de mostrar o que precisava ser mostrado. Junto com


Lélia Wanick Salgado, sua companheira de vida e de lutas, plantou o Instituto Terra, na mesma Aimorés em que nasceu, provando que a esperança é uma semente teimosa — mesmo em solo arrasado.


Dedicava-se, nos últimos anos, à organização do seu acervo. Ou seja, de sua versão da História de nosso tempo. Ele se foi, mas suas imagens continuam vivas, porque elas não são registros,


são testemunhos eternos da resistência humana e também um convite permanente à reflexão e à transformação. Levam esperança aos locais onde a lama encharca os pés, por mostrar que as pessoas


não estão sozinhas na dor. E provocam constrangimentos naqueles que reluzem a ouro, por mostrar que elas são poucas. Algumas histórias não podem morrer. Por que ainda precisam doer. Por que


ainda precisam mudar o mundo. Descanse em luz, mestre.