"o eternauta" amplia busca por desaparecidos na argentina

"o eternauta" amplia busca por desaparecidos na argentina


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Série argentina sobre a épica luta pela sobrevivência de Juan Salvo se torna ficção de língua não inglesa mais assistida da Netflix e multiplica por seis o número de consultas às Avós da


Praça de Maio.A série O Eternauta se tornou a ficção de língua não inglesa mais assistida da Netflix desafiando as fronteiras com a realidade. Baseado em uma famosa história em quadrinhos


argentina, de 1957, a produção também veio para tentar "consertar" algumas coisas no mundo real. "A série nos deu a oportunidade de falar sobre a história da família


Oesterheld, de Hector [autor do quadrinho original de 1957], de suas quatro filhas desaparecidas e dos dois netos ou netas que procuramos, já que duas delas estavam grávidas quando foram


sequestradas", explicou à DW Manuel Gonçalves Granada, secretário das Avós da Praça de Maio. A organização não governamental é dedicada a localizar e devolver às suas famílias crianças


desaparecidas durante a última ditadura argentina (1976-1983). Segundo Granada, desde o lançamento da série, em 30 de abril, até a última sexta-feira (16/05), a ONG recebeu seis vezes mais


consultas de pessoas com dúvidas sobre a própria identidade, na comparação com mesmo período do ano passado. Já o número de pessoas que entraram em contato para fornecer informações sobre


possíveis casos triplicou nesse intervalo. Sucesso absoluto A série acompanha a trajetória de Juan Salvo (Ricardo Darín), que, após uma nevasca tóxica produzir um cenário distópico em Buenos


Aires, se torna viajante do tempo e do espaço em busca de sua família. Não é um relato histórico, mas um episódio na vida do autor aproximaria ficção da realidade: vinte anos após a


publicação do quadrinho, ele teve destino semelhante ao dos personagens que concebeu. "Há um espectador que está assistindo a uma série de ficção científica, mas por trás dela existe


uma história familiar muito difícil e, embora a série não conte isso explicitamente, ele pode acabar descobrindo depois de assistir à série e descobrir quem é o autor e o que aconteceu com


sua família durante a ditadura", afirma Granada. O fenômeno contribuiu para o sucesso da série dirigida por Bruno Stagnaro, que alcançou o primeiro lugar entre as atrações da Netflix


mais assistidas em vários países da América Latina e da Europa. "Produções como essa nos permitem amplificar a mensagem", argumenta Giselle Tepper, representante da organização de


direitos humanos H.I.J.O.S (Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio). "Não somos só nós, as organizações de direitos humanos e as famílias, que


estamos procurando. Quem assistiu à série também está procurando, quem soube, por meio desta história, que o autor está desaparecido há quase 50 anos", disse em entrevista à DW. Busca


que não termina "E achamos que os netos que procuramos podem ter visto a série, assim como a próxima geração: os bisnetos de Oesterheld. Ou talvez alguém os conheça", espera


Tepper. Carlos Pisoni, também integrante da H.I.J.O.S, calcula que cerca de 500 netos foram roubados, entre os quais 139 foram encontrados. Quem pegou essas crianças para criar costuma ser


chamado de "apropriador". "Estamos falando de pessoas entre 46 e 50 anos, que andam entre nós, que estão vivas, que têm outro nome, e que chamam os apropriadores de


‘pai'. E, além disso, essas pessoas têm filhos: são bisnetos das avós", explica Pisoni, cujos pais estão desaparecidos. Para Pisoni, a principal mensagem da série está "mais


viva do que nunca": a de que o único herói possível é o coletivo, que ninguém pode se salvar sozinho. "E o que a série está gerando é justamente isso: uma busca coletiva",


destaca. "O que está acontecendo com a série é esperançoso e nos faz acreditar que é possível que isso nos ajude a encontrar o próximo desses 300 netos que ainda estamos procurando,


esses bebês roubados durante a ditadura, entre os quais, aliás, estão os dois pertencentes à família Oesterheld", compartilha Gonçalves Granada, na mesma linha. Autor: Maricel Drazer


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