O passado obscuro de Nawrocki, novo presidente da Polônia

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O passado obscuro de Nawrocki, novo presidente da Polônia 00:02 | 03/06/2025 Autor DW DW Autor Ver perfil do autor Tipo Notícia


Até sair candidato, Karol Nawrocki era um historiador relativamente desconhecido a serviço do ultraconservador PiS. Crítico da União Europeia, ele é acusado de ter se envolvido com a cena


hooligan na juventude.Quando, em 25 de novembro de 2024, o partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS) anunciou o nome de seu candidato à Presidência da Polônia, não foram apenas os meios


de comunicação que ficaram surpresos. Muitos dentro do próprio PiS também não conheciam Karol Nawrocki. Suas primeiras aparições geraram apreensão – ele parecia duro, tinha pouca habilidade


retórica, lia seus discursos no papel e ostentava um sorriso forçado. Seu adversário, o prefeito de Varsóvia e centrista pró-UE Rafal Trzaskowski, parecia já estar com a vitória garantida


antes mesmo de a campanha começar para valer. De início, Trzaskowski aparecia nas pesquisas com vantagem de dez pontos percentuais ou até mais. Mas, com o tempo, a aposta do presidente do


PiS, Jaroslaw Kaczynski, se revelou acertada. O próprio Nawrocki admitiu ser uma "criação de Kaczynski". Ele foi apresentado ao eleitorado como um "candidato cidadão" que a sigla apenas


"apoiava", mas sem filiação partidária e independente. O truque visava enganar os eleitores que não se esqueceram das violações do Estado de direito e do caos no sistema tributário durante


os oito anos de governo do PiS (2015–2023). "Nawrocki evoluiu enormemente em termos retóricos. Ele aprende rápido com os próprios erros. Por isso é tão perigoso", afirma o cientista político


Antoni Dudek. Um homem de origem humilde Natural de Gdansk, Nawrocki, 42 anos, tem origem humilde. Formado em história, ele obteve o doutorado com uma tese sobre a oposição anticomunista no


nordeste da Polônia. Em 2017, foi encarregado de reformular o Museu da Segunda Guerra Mundial em Gdansk – instituição criada por especialistas ligados ao atual primeiro-ministro polonês,


Donald Tusk – para adequá-la aos moldes ideológicos do PiS. A reforma foi caracterizada por demissões e pela "polonização" da exposição permanente, considerada pouco patriótica. Em 2021, o


PiS conseguiu fazer de Nawrocki chefe do Instituto da Memória Nacional (IPN), órgão dedicado à história moderna da Polônia e que investiga crimes cometidos desde a Revolução Russa de 1917


até o fim da era comunista, em 1990. O influente instituto tem um papel importante na disputa pela memória nacional e foi utilizado pela ultradireita polonesa como instrumento de propaganda.


Nawrocki chefiou o IPN até recentemente. Trump como modelo: Polônia em primeiro lugar Nawrocki fez campanha sob o lema "Primeiro a Polônia, primeiro os poloneses". Aos eleitores,


apresentava-se como um homem "de carne e osso" que ascendeu por mérito próprio. "Eu sou um de vocês, sou a sua voz", repetia com frequência em comícios. Fã assumido do presidente americano


Donald Trump, ele viajou a Washington no início de maio para tirar uma foto ao lado dele no Salão Oval. Assim como seu mentor Kaczynski, Nawrocki vê a União Europeia como uma a


meaça à soberania da Polônia e é crítico ferrenho do acordo verde e do pacto migratório da UE – mas evita usar a palavra "Polexit". Durante a campanha eleitoral, por vezes recorreu a um


discurso hostil à Alemanha e até acusou Tusk de ser um "criado" do país vizinho. E, diferentemente de Tusk, Nawrocki vê a ajuda internacional à Ucrânia com ceticismo. Passado hooligan


Nawrocki tem no boxe amador uma de suas paixões. Na juventude, conquistou alguns sucessos na categoria peso-pesado. A mídia polonesa o acusa de ter mantido, no passado, contatos com a cena


dos hooligans e com o submundo do crime. Ele próprio admitiu ter participado de pelo menos uma pancadaria entre torcedores de dois times de futebol, pela qual vários participantes foram


condenados – Nawrocki, no entanto, não foi identificado à época. O político, que na juventude chegou a trabalhar como segurança particular, foi acusado ainda de ter acompanhado prostitutas


até o luxuoso Grand Hotel em Sopot, segundo o portal de notícias ONET. Ele também teria se apropriado indevidamente de um apartamento municipal. O futuro presidente rejeita as acusações,


classificando-as como difamação. "Nawrocki não tem nem os pré-requisitos morais, nem a competência técnica para se tornar chefe de Estado", afirma Dudek, que presidiu o Conselho do IPN entre


2010 e 2016, antes da chegada do PiS ao poder. Autor: Jacek Lepiarz (de Varsóvia)


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