
O que pode acontecer quando blair sair de cena
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Londres Tony Blair já anunciou sua renúncia, mas ainda não saiu de cena e permanece como primeiro-ministro até o final de junho. Só que a dança das cadeiras no poder britânico começou bem
antes, mais precisamente em 2005, quando o premier pouco tempo depois de se tornar o primeiro líder do Partido Trabalhista a vencer três eleições gerais consecutivas anunciou que não
disputaria um novo mandato. Os motivos reais da desistência ainda são um mistério, mas pode-se imaginar que Blair soube interpretar a nova geografia da política britânica. Afinal, a vitória
eleitoral em 2005 teve sabor amargo: a maioria parlamentar do governo foi drasticamente reduzida de 160 para 66 cadeiras e ficou no ar a impressão de que a queda de popularidade de Blair
teve bastante influência no resultado, sobretudo no ressurgimento do Partido Conservador, a legenda surrada pelos trabalhistas nos pleitos de 1997 e 2001. No entanto, o efeito causado pelo
premier pode ter sido outro: um feitiço que virou contra o feiticeiro. "Não se pode esquecer que uma das grandes realizações de Blair foi dar uma sacudida no mapa da política britânica.
Antes de sua chegada à liderança trabalhista, o contexto partidário era muito rígido entre esquerda e direita. Blair aproximou o partido do centro e criou uma flexibilidade que agora começa
a ser aproveitada pela oposição. Os conservadores, por exemplo, já estão com um discurso mais centrista", opina o cientista político David Coates, da Wake Forest University (EUA),
especializado em estudos partidários britânicos. É neste cenário que o atual ministro das Finanças, Gordon Brown, cuja efetivação como premier parece cada vez mais uma mera formalidade, terá
de trabalhar se quiser cumprir mais que um mandato-tampão até as próximas eleições gerais o prazo máximo é maio de 2010. Os resultados de pesquisas e das recentes eleições locais
revelaram que os conservadores ainda não conseguiram penetrar em tradicionais redutos trabalhistas, como Escócia, País de Gales e norte da Inglaterra, algo fundamental para um retorno ao
poder, mas há sinais de recuperação nas regiões do sul perdidas em 1997 e 2001. "Os conservadores demoraram para perceber que estavam parados no tempo e que o contexto político
britânico agora parece mais apropriado para uma situação de plataformas mais homogêneas. Não se trata mais simplesmente de um antagonismo entre a economia de mercado e o bem-estar social,
como há algumas décadas", explica Alan Finlayson, analista político da Universidade do País de Gales. A mensagem parece ter sido captada pelo líder da legenda, David Cameron. Desde que
assumiu o cargo de número um da oposição, em 2005, ele não apenas tem feito um esforço para mudar a imagem sisuda e ultrapassada dos conservadores junto ao público como evita promover dogmas
normalmente associados à direita, como a redução de impostos. Ao mesmo tempo em que foge à cartilha tradicional para falar em justiça social e chamar a atenção para a defesa do meio
ambiente. "O maior problema em relação a Cameron é que ele ainda está vivendo da imagem de político jovem que enfrenta um rival de saída (Blair). Pouco se sabe sobre as propostas reais
dos conservadores e é preciso lembrar que Brown tem um bom tempo para preparar uma defesa", pondera Jonathan Tonge, cientista político da Universidade de Liverpool. Porém, o que parece
certo é um equilíbrio no jogo político rumo ao próximo pleito geral, algo que nem mesmo os cabos-eleitorais conservadores mais otimistas ousavam enxergar entre 1997 e 2005. Especialmente
porque a terceira força política, o Partido Liberal-Democrata, dá sinais de estar rateando após conquistar 62 cadeiras nas últimas eleições (seu melhor resultado desde da década de 20) e
surgir como opção imediata do eleitorado mais jovem.