
Lou reed. 1942-2013. Not a perfect day
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“Alto, cabelo preto, gosta de basquetebol, música, e, claro, raparigas”, começava assim a descrição de Lewis Reed. “Num futuro imediato, Lou não tem planos, mas vai enfrentar a vida como ela
é.” A falta de planos de Reed, no liceu, transformou–se numa revolução da música tal como a conhecíamos. A mensagem do anuário do estudante,… “Alto, cabelo preto, gosta de basquetebol,
música, e, claro, raparigas”, começava assim a descrição de Lewis Reed. “Num futuro imediato, Lou não tem planos, mas vai enfrentar a vida como ela é.” A falta de planos de Reed, no liceu,
transformou–se numa revolução da música tal como a conhecíamos. A mensagem do anuário do estudante, ainda de gravata e sem cabedal, não deixava adivinhar que estávamos perante um dos nomes
mais importantes do rock que iria influenciar gerações e gerações. Uma lenda, podemos dizê–lo sem receios, mesmo que o próprio não gostasse. “Lenda? Nem por um segundo penso que sou uma
lenda. No restaurante, quando me dão a conta para pagar, não respondo: ‘leve isso daqui que eu sou uma lenda’”, dizia o compositor de “Take a Walk on the Wild Side”, a Charlie Rose, numa
entrevista em 1998. E continuava Reed:“do que me orgulho é de escrever, quando escrevo uma boa frase, tenho muito prazer.” Despretensioso, fazia-nos acreditar que não era assim tão difícil
chegar ao patamar dos deuses:“sei que parece cliché, mas se praticares uma coisa uma, outra e outra vez, é suposto ires melhorando”. Mas melhorar como Reed poucos alguma vez conseguiram,
explica a revista “Rolling Stone”. “Como artista inventivo e inquieto, dos anos 70 a 2010, foi camaleónico, imprevisível, desafiando os fãs a todo o momento. Glam, punk e rock alternativo
são impensáveis sem o seu exemplo.” Por isso, não é de estranhar que a morte de Lou Reed marque o fim de uma era e deixe o mundo da música de luto. “Sem o Lou não há Bowie tal como o
conhecemos. E eu provavelmente seria apenas um professor de matemática”, escreveu a estrela dos anos 80, Lloyd Cole. A notícia da morte de Lou Reed foi avançada ontem pela revista “Rolling
Stone”, apesar de não ter sido divulgada a causa. O jornal inglês“The Guardian” teve a confirmação oficial do agente de Lou Reed:“Infelizmente é verdade”. E a agente literária, Andrew Wylie,
também confirmou que ele morreu em Long Island. Muitas confirmações, porque em 2012 as falsas notícias da sua morte tinham assustado muitos. A revista americana avançou ainda que apesar de
não ter sido confirmado que esta terá sido a causa da morte, o músico tinha sido submetido a um transplante de fígado em Maio, devido ao excessivo consumo de álcool e drogas. O músico terá
dito em tempos que deixou a droga graças ao álcool, mas estava sóbrio desde 1980. Na altura do transplante, a mulher, a artista Laurie Anderson, com quem o músico se casou em 2008,
mostrou–se preocupada. “Foi muito sério, ele ia morrendo e acho que não vai recuperar totalmente”, disse ao “The Times”. Mas passado pouco tempo, o próprio músico deixou todos descansados
quando escreveu no Facebook:“sou um sucesso da medicina moderna, da física e da química”. Nova iorque e velvet Nascido em Brooklyn, a 2 de Março de 1942, era conhecido como Lou mas o seu
nome completo era Lewis Allan Reed. De origem judaica, a mãe chamava-se Toby e o pai, um contabilista, era Sidney Joseph Reed. A relação com a família não era das melhores.Demasiado
conservadores, chegaram a levar Reed ao médico para levar choques eléctricos com o intuito de acabar com as suas tendências homossexuais. Omúsico conseguiu sobreviver a tudo isso.Aprendeu a
tocar guitarra a ouvir rádio e dedicou–se à música desde cedo. O R&B e o rock foram as suas influências, mas o free jazz também fez parte dos seus interesses quando se mudou para a
Universidade Syracuse. Depois de terminados os estudos foi para Nova Iorque, em 1964, e começou a trabalhar como compositor na Pickwick Records. Todos os caminhos pareciam conduzir aos
Velvet Underground. Foi na Pickwick que conheceu John Cale. Passado pouco tempo juntaram-se Sterling Morrison e Maureen Tucker. Andy Warhol não tardaria a tornar--se o seu patrono. Desta
experiência, Reed tirou outra paixão:a fotografia. “Adoro tirar fotografias, desde os tempos da Fábrica doWarhol. Costumamos dizer que somos licenciados emAndy Warhol. Fotografar é brincar
aos deuses com o planeta”, disse na conferência doEstoril Film Festival, em Novembro de 2010, quando esteve em Portugal para apresentar a exposição de fotografia “Romanticism”. Em 1970, Reed
deixava a banda de “Heroin” e lançava-se a solo.Durante 40 anos, editou álbuns como “Transformer” (1972), “Berlin” (1973) e “Legendary hearts” (1983), e colaborou com artistas tão
diferentes como os The Killers ou Metallica. Provocador. “Não sou nada complicado”, dizia aos jornalistas. Mas muitos que se cruzaram com ele iriam discordar. Não há dúvidas que foi uma das
figuras mais influentes da história do rock, mas quanto a simpatias… É que um músico quando se transforma em lenda tem destas coisas. Discussões com jornalistas e insultos a fãs em
concertos, fazem parte do ADN. O Lou Reed de “Perfect Day” terá dito que usava óculos de sol nos concertos porque não suportava olhar para os fãs. Irritava–se frequentemente com as
perguntas de alguns jornalistas, saindo e batendo com a porta ou respondendo a perguntas sobre como continuava a ser criativo com tiradas ao estilo:“masturbo-me todos os dias, pode ser
assim?” O músico para quem deus era o rock’n’roll nunca se perdeu em nostalgias ou no passado.Queria sempre mais. Realizou um filme, em 2010, sobre a prima que sobreviveu ao nazismo,“Red
Shirley” e dizia, quando veio a Portugal, que a sua ideia de céu era viajar pelo mundo a filmar mestres de artes marciais, um hobby que levava muito a sério. “Acho que a vida é muito curta
para nos concentrarmos no passado. Prefiro olhar para o futuro.”